quinta-feira, 29 de abril de 2010

Decanter



Muitos apreciadores de vinho já devem ter presenciado ou até mesmo executado a decantação de um vinho.


Fundamentalmente a decantação consiste na passagem cuidadosa do vinho que está em uma garrafa para uma peça de vidro ou cristal com capacidade volumétrica superior ao da garrafa. Essa passagem permite separar os sedimentos que ficaram repousados no fundo da garrafa, além de promover a areação do vinho, uma vez que a relação entre o volume de vinho e oxigênio é alterada.


Segundo Jancis Robinson, em The Oxford Companion to Wine (Oxford University Press, 2006), as razões pelas quais um vinho deve ou não ser decantado são controversas. Historicamente, o que justificava a decantação de um vinho era a ausência dos processos de filtragem e clarificação da bebida. Os sedimentos sólidos que flutuavam no vinho aos poucos desciam até o fundo da garrafa, e a passagem da bebida para um decanter permitia, então, separar mecanicamente o líquido dos sedimentos depositados na garrafa.

Mas, como lembra Robinson, com o desenvolvimento das técnicas de clarificação e filtragem dos vinhos, a decantação com essa finalidade só se justifica no caso de exemplares que envelheceram por longos períodos. Provocando, assim, nova precipitação de sedimentações, ou vinhos que tiveram pouca ou nenhuma filtragem, como os Porto Vintage, por exemplo.


Já a areação como justificativa para decantação divide opiniões de muita gente renomada. A ideia corrente é que a areação auxilia na liberação dos aromas do vinho. Robinson cita Émile Peynaud (1912-2004), renomado professor de enologia da Universidade de Bordeaux, segundo o qual não há qualquer razão enológica para decantação, uma vez que ela faz com que os aromas do vinho a se tornem mais difusos. Segundo ele, apenas vinhos com sedimentos devem ser decantados e, mesmo assim, servidos imediatamente após a operação. Qualquer desejo de intensificar a areação do vinho poderia ser feito agitando o vinho na propria taça.


Por outro lado, Hugh Johnson, o renomado escritor britânico de vinhos, indica em sua autobiografia A Life Uncorked (University of California Press, 2005), que todo vinho tinto e mesmo boa parte dos brancos devem ser decantados. A operação, que segundo Johnson auxilia a revelar aromas e tornar o vinho mais macio na boca, deve ser rotineira, mesmo reconhecendo ele que isso contraria as lições de Peynaud.

domingo, 18 de abril de 2010

ExpoVinis Brasil 2010 - 14º Salão Internacional do Vinho


DIVULGAÇÃO:



ExpoVinis Brasil 2010 -

14º Salão Internacional do Vinho

Horários:

27/04 -

14h00 - 22h00 Profissionais

28/04 -

14h00 - 19h00 Profissionais

19h00 - 22h00 Profissionais e Público


29/04 -


14h00 - 19h00 Profissionais


19h00 - 22h00 Profissionais e Público


Local:


Expo Center Norte - Pavilhão Vermelho

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O Vinho e suas taças







Embora o vinho já fosse apreciado há cerca de 5.000 a.C., a história do copo para vinhos é muito recente, tem pouco mais de quatro décadas. Alguns fabricantes de copos, apreciadores da bebida, resolveram ir em busca da forma apropriada à degustação de cada vinho e suas características específicas. O aroma mais forte ou mais suave, a textura encorpada, a cor, cada detalhe não poderia ser negligenciado no momento da degustação e o copo de vinho, enquanto meio, deveria ressaltá-los.




Deixam-se de lado as formas ornamentais, o emprego das cores, os bisotados, o espaço exíguo do bojo e as bordas inadequadas – qualquer excesso que distorça a visão, o olfato, o paladar do vinho.




Agora, o conteúdo determina a forma também dos copos.






Vinho Branco








Os vinhos brancos podem ser apresentados em diversos copos :




A forma tulipa nos remete aos aromas florais e cítricos, típicos dos vinhos nela servidos. Menor o espaço, melhor a conservação da baixa temperatura, fundamental para esses vinhos.




Para os vinhos Rheingau, Grüner Veltliner, Mosee-Saar-Ruwer, Orvieto, Pinot (Blanc, Grigio, Gris), Riesling (Ka-binett), Roter Veltliner, Scheurebe, Sylvaner, Vernaccia, Welschriesling.




Vinhos firmes, fortes, mas de postura elegante, vivaz e vibrante precisam de espaço para os aromas e de borda aberta para abranger toda a boca. Para os vinhos Alsace, Aligoté, Chasselas, Chenin Blanc, Fendant, Furmit (Dry), Gutedel, Kerner, Melon de Bourgogne (Muscadet), Müller-Thurgau, Muskateller, Muskat-Ottonel, Neuburger, Re cioto Di Soave, Ribolla Gialla, Ruländer, Soave, Tokay, Trebbiano, Vin de Savoie (White).




A forma ovalada e a espessura de casca de ovo destacam a textura densa com lágrimas que escorrem suavemente, enaltecendo o aspecto visual. Os aromas explodem sem se perder. Na boca, reforça o frescor que contrabalança a licorosidade do vinho. Para os vinhos Sauternes, Ausbruch, Auslese, Barsac, Beerenauslese, Dessertwine, Jurançon Moelleux, Ice Wine, Loupiac, Monbazillac, Picolit, Quarts de Chaume, Tokaji, Trockenbeerenauslese.




Vinhos opulentos, densos, algumas vezes doces ou meio doces, beneficiam-se de espaços maiores para aeração e explosão de aromas ocultos. Para os vinhos Riesling Grand Cru, Alsace Grand Cru, Ewürztraminer, Grüner Veltliner, Jurançon Sec, Riesling (Late Harvest), Riesling Smaragd, Vouvray.




As borbulhas não podem se dispersar, por isso a postura retilínea, longa que destaca a cachoeira de pérolas às avessas. Por ser fechado, permite sentir melhor o frescor incisivo e a agulha delicada dos espumantes. Para os vinhos Champagne, Cuvée Prestige, Rosé Champagne, Vintage Champagne, Vintage Sparkling Wine.




Vinhos encorpados e complexos ao extremo. Brancos de alma tinta, amplos e plenos. Assim são esses vinhos, assim devem ser os copos. Para os vinhos Montrachet (Chardonnay), Burgundy (White), Chardonnay, Corton-Chalemagne, Meursault, New World Chardonnay. Pouilly-Fuissé, St. Aubin.




Vinho Tinto






Os vinhos tintos também têm os seus copos:




Frutas maduríssimas ou passas e certo aroma vegetal. O copo um pouco mais fino não deixa que os aromas se dipersem, além de colaborar com a temperatura, que não deve passar de 18°C. Para os vinhos Zinfandel, Ajaccio, Bardolino, Beaujolais Nouveau, Carignan, Chianti, Côtes du Roussillon, Côtes du Ventoux, Dolcetto, Freisa, Grignolino, Lambrusco, Montepulciano, Patrimonio, Primitivo, Sangiovese, Teroldego, Vin de Corse.




Espaço amplo para revelar os inúmeros aromas de vinhos mais evoluídos. A distância considerável entre o fundo do copo e a boca solta os sabores mais discretos. Para os vinhos Tinto Re serva, Crianza, Gran Re serva, Ribera del Duero, Rioja, Tempranillo.




Couro, especiarias, iodo, frutas e alcatrão no conjunto aromático. Pleno na boca. Esses são os vinhos que caem no copo como uma luva, ressaltando o aveludado do vinho e guardando sua complexidade. Para os vinhos Hermitage, Amarone, Barbera, Blaufränkisch, Châteauneuf-Du-Pape, Cornas, Côte Rôtie, Crozes Hermitage, Grenache, Malbec, Mourvèdre, Petite Sirah, Priorato, Saint Joseph, Shiraz, Sirah.




Bojo balão, com dimensão avantajada, permite aeração e faz explodir os aromas complexos – mas delicados de flores, frutas e especiarias presentes nesses vinhos. A borda aberta suaviza os vinhos nervosos, fazendo-os tocar alguns pontos da boca, essenciais para apreciar as sensações macias. Para os vinhos Burgundy Grand Cru, Barbaresco, Barolo, Beaujolais Grand Cru, Blauburgunder, Burgundy ( Re d), Clos de Vougeot, Dornfelder, Echézeaux, Gamay, Musigny, Nebbiolo, Nuits Saint Georges, Pinot Noir, Pommard, Romanée Saint Vivant, Santenay, Volnay, Vosne-Romanée.
.
O uso de copos e taças específicas para diferentes bebidas tem relação com a concentração ou dispersão de aromas que se pretende obter, com a região da boca a ser primeiramente marcada pela bebida e ao isolamento térmico, protegendo as mãos do degustador no caso de líquidos quentes ou evitando que a bebida se aqueça em contato com suas mãos.

A escolha de uma taça de bojo largo e bordas de circunferência mais estreita, que se afunila na direção das narinas, pode auxiliar na concentração dos aromas, enquanto um modelo de boca mais aberta permite que eles se dissipem e sejam atenuados no momento em que aproximamos o líquido dos lábios. Da mesma forma, taças e copos longos, estreitos e cilíndricos tendem a jogar a bebida no fundo da língua, marcando primeiramente seu registro mais amargo, enquanto taças de boca mais ampla tendem a fazer com que a língua seja sensibilizada primeiramente nas regiões que registram os aspectos ácidos e adocicados da bebida.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A História do Blues




A História


O Blues se originou com a voz dos escravos dos campos de algodão do sul dos Estados Unidos. Eles cantavam durante os trabalhos nas plantações para aliviar a dureza do trabalho. Enquanto os negros soltavam suas emoções, os brancos vislumbraram o lado prático da música.


Para os fazendeiros, as canções de trabalho ajudavam a imprimir um ritmo no campo e deixavam os escravos mais felizes. A partir de 1860, os spirituals - canções religiosas entoadas pelos negros africanos desde sua chegada à América - sofreram uma mutação fundamental. Além de apelar para Deus, os escravos começaram a curar suas dores de amor através da música.


O Blues é, também, o lamento do andarilho das estradas, o mesmo que chegou até as cidades, adotou o microfone e a guitarra elétrica, dai o Blues ser considerado o pai do Rock. E o é !


Criado no século passado, ele tomou sua forma final somente a partir de 1900. As primeiras gravações datam dos anos 10. Mas o Blues esperaria um pouco mais para florescer graças ao talento de Big Bill Broonzy, Bessie Smith, Muddy Waters, Otis Spann, Bo Diddley, B.B. King, Lowell Fulson, John Lee Hooker, Howlin, Wolf, Sonny Boy Williamson, Memphis Slim e Buddy Guy .

A transgressão não estava somente na conotação amorosa e sexual das letras do Blues. No formato musical, o estilo também marcou uma ruptura.

Fugindo da complexidade do Jazz e da rigidez dos eruditos, o Blues nasceu como uma música crua. ( o Blues é uma música fundamentada na escala pentatônica).


Com uma base harmônica quase simplória, o estilo disseminou-se rapidamente pelo sul dos Estados Unidos.


Tocar e cantar o Blues era, teoricamente, simples. Mas o que transformava um mero curioso num verdadeiro bluesman era o sentimento que ele colocava em sua interpretação.
.
"O Blues não é uma escala pentatônica, Blues é acima de tudo sentimento..."


No final do século XIX, a alta taxa de natalidade provocada pela emancipação dos escravos proporcionou outros tipos de trabalho aos negros.


Muitos deixaram o campo e partiram para a periferia das grandes cidades do sul, como Chicago, Memphis e a região do Delta do rio Mississipi, nos estados de Arkansas, Tennessee, Alabama, Luisiana e Mississipi, para trabalhar nas primeiras metalúrgicas e refinarias do país ou em canteiros de obras.


Mas a maior parte deles foi parar nos entrepostos de algodão e tecidos. Esse movimento em direção às cidades do sul atingiu seu pico entre a virada do século XX e o final da primeira Guerra Mundial (1914-1918).


A formação de guetos foi inevitável. Neles, os negros ralavam, sofriam e também se divertiam. A procura por prazer em prostíbulos, bares e casas de jogo tinha um ponto em comum: a música. Neste ambiente, explodiu a revolução do Blues urbano.


Quando conseguiam descolar instrumentos musicais, os negros tocavam o banjor, um ancestral do banjo de origem africana, e o fiddle, espécie de violino trazido para os Estados Unidos pelos irlandeses.


O violão apareceria logo depois, graças à influência espanhola vinda do México. Os primeiros bluesmen profissionais formam uma categoria à parte. Incapacitados para o trabalho manual, cegos e deficientes encontravam na música seu meio de vida. Blind Lemon Jefferson, Blind Willie McTell e outros tantos Blinds (cegos) começaram assim. Também nascia a tradição do músico itinerante de vida na estrada.


O primeiro Blues a virar disco foi gravado em Nova Iorque pela cantora Mamie Smith, em 1920. "Crazy Blues" superou todas as expectativas, vendendo 75 mil cópias por semana. Com o sucesso, Mamie voltou ao estúdio três vezes em três semanas e virou febre.


A partir de 1921, todas as grandes gravadoras americanas passaram a ter suas "race series" (séries da raça), subdivisões que lançavam discos de músicos negros para o consumo da população dos guetos urbanos do sul.


A primeira onda de sucesso de vendas de discos foi capitaneada por cantoras como Bessie Smith, Geertrude Ma Rainey e Alberta Hunter. Até a segunda Guerra Mundial (1939-1945), o mais importante celeiro do Blues era a região do Delta do Mississipi. Ali surgiram bluesmen fundamentals como Charlie Patton, Tommy Johnson, Son House, Skip James, Big Joe Williams e o lendário Robert Johnson. Para alguns historiadores, o que fazia o Blues do Delta ser único era a forte influência africana, com um ritmo sincopado, mascado pelos pés, o uso do falsete nos vocais, repetições de um mesmo acorde e o uso de um truque que viraria uma marca registrada do gênero: o slide.


Deslizando o gargalo de uma garrafa ou um pedaço de osso - mais tarde, tubos de metal também seriam usados - ( futuramente conhecido como "slide") sobre as cordas do violão, o músico conseguia um efeito inédito no instrumento. Com o início da Segunda Guerra Mundial, o panorama social começou a mudar nos estados do Sul. Graças à entrada de negros nos quadros militares, surge uma promessa de integração racial.


Pura ilusão.


Encontrando o mesmo cenário na volta para casa, os negros passaram a se isolar cada vez mais em bairros próprios e nasce uma consciência racial que desembocaria nos movimentos pelos direitos civis dos anos 60.


No mundo da música, o esquecido Blues regional cede espaço para um som nitidamente urbano, marcado pela presença de um novo ingrediente: a guitarra elétrica.


Novas gravadoras abrem suas portas e outros bluesman passam a dominar a cena. Em Memphis, agora a capital da região do Delta do Mississipi, garotos como B. B. King, Elmore James, Sonny Boy Williamson e Howlin' Wolf dão seus primeiros passos.
Em Chicago, surge outra leva de gênios.
Lá nasceu a parceria de Muddy Waters e Willie Dixon, que rendeu frutos como os clássicos "Hoochie Coochie Man", "Mannish Boy" e "Rollin' and Tumblin'". A cidade Aina viu surgir Little Walter, Otis Rush, Magic Sam e Buddy Guy. Enquanto isso, o solitário John Lee Hooker levanta sua voz em Detroit. Cada um à sua maneira, todos deixaram sua marca na história do blues. Mas os Estados Unidos estavam mudando. Nos anos 50, o rock'n'roll explode, uma célebre frase resume bem essa situação: "O Blues teve um bebê e ele ganhou o nome de rock'n'roll.


A partir desta fase, o estilo criado pelos escravos do sul dos Estados Unidos começou a ser um ingrediente obrigatório na receita de inúmeros cantores e bandas de Rock. De Elvys Presley a Janis Joplin. De Roling Stones, Led Zeppellin a Deep Purple, passando por The Doors, Creedence Clearwater Revival e The Who, todo mundo sofreu alguma influência do blues, culminando com Jimi Hendrix e Eric Clapton (The God - Slow Hand), estes em diversas formações de banda ou em carreira solo.


A Lenda
ROBERT JOHNSON

Apesar de ter sido um dos últimos a aparecer, Robert Johnson foi o maior criador do blues do Delta. E sua vida tornou-se a lenda mais famosa da história do Blues (um exemplo é o filme "A Encruzilhada" filme este imperdível para quem quer conhecer um pouco do espírito do Blues).


Johnson nasceu em Hazlehurst, Mississipi, fruto de uma relação extra-conjugal de sua mãe, abandonada logo depois por seu pai, um trabalhador rural. Ele seguiu o mesmo caminho do pai e casou-se quando tinha 16 ou 17 anos. Depois da morte de sua mulher, enquanto tentava dar à luz, sua vida mudou completamente.


Johnson se entregou ao Blues, primeiro tocando gaita e depois violão. Ele logo começou a viajar pela região do Delta, apresentando-se em todo tipo de lugar. Quando sua fama começo a crescer, o bluesman sumiu por seis meses. Há quem diga que ele viajou pelo país em busca de seu pai.


Mas a lenda conta que, nesta época, Johnson estava fechando seu acordo com o Diabo. O negócio era simples: em troca de sua alma, Johnson tornar-se-ia o maior bluesman da área.


O próprio músico alimentava a lenda, compondo canções como "Crossroads" (Eric Clapton tem uma interpretaçao genial) em que narra seu "encontro" com o demo numa escruzilhada - e "Devil Blues". De fato, ele gravaria suas músicas logo depois e viveria um breve período de sucesso. Mas Johnson morreu com apenas 27 anos ( Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison também morreram aos 27 anos), em 1938.


As testemunhas de sua agonia colocaram ainda mais lenha na fogueira. O bluesman teria caído de joelhos, latido e uivado como um cão antes de morrer, seu nenhuma causa aparente.


A versão oficial é que Johnson foi envenenado por um marido traído. Seja como for, o mito eternizou-se. Desde então, Robert Johnson passou a ser venerado por todas as gerações de músicos de Blues.

Seus discos são itens obrigatórios em qualquer coleção do estilo e suas músicas foram regravadas incontáveis vezes. ( Me and Mr. Johnson - Eric Clapton - essêncial).
Mais que seus discos, ROBERT JOHNSON deixou seu legado, graças a ele, o Blues transcendeu raça, credo e cor.