segunda-feira, 22 de março de 2010

Vendendo a alma ao Diabo



Outro dia, conversando com meu amigo Dr. Alberto sobre blues, percebi que há tantas versões sobre a lenda de Robert Johnson vender a alma ao Diabo que resolvi pesquisar um pouco sobre o assunto.

Não tenho a pretensão de esclarecer algo ou tampouco sentenciar a verdade..., muito pelo contrário, prefiro acrescentar mais uma nas inúmeras polêmicas que existem acerca do inesgotável tema.



A lenda sobre o ato destemido, imprudente, desesperado de vender a alma ao diabo em troca de alguma aptidão especial ou “favor”, existe há séculos e tem sido associado a vários gêneros musicais, mas no foi blues que ficou marcado, com mais firmeza, como uma sina, prá ser um bom bluseiro, tem que vender a alma.



Apesar disso, a verdade é que, quando os cantores de blues falaram sobre o diabo, estavam mais se referindo a uma mulher ou patrão (chefe) que os maltratou do que do Príncipe das Trevas.




Skip James gravou “Devil Got My Woman” em 1931. Ele tinha uma voz incrível, onde certamente parece assombrado por infernal. Mas ele estava mais preocupado com sua mulher do que com qualquer outra coisa sobrenatural.



A maioria dos tipos de música não-religiosa (e muitas atividades) foram apelidados de “coisas do diabo” pelos frequentadores da igreja.



Assim, o blues ganhou o apelido duradouro de “Música do Diabo”, e por acabar sendo uma visão que a “diferenciava” dos outros gêneros musicais, alguns músicos de blues abraçaram a idéia, esperando que isso os fizesse famosos.



Uma grande estrela do blues, da década de 1930, chegou ao ponto de usá-lo como uma ferramenta de marketing – muito bem sucedida, por sinal. Ele chamava a si mesmo de “Xerife do Inferno” ou de “Cunhado do Diabo” (Devil´s Son in Law), e se tornou bastante popular e imitado por músicos de sua época. Peetie Wheatstraw provavelmente ganhou muitos fãs à procura de uma forma “ligeira” de rebelião, e fucionou porque ele apresentou uma alternativa – um tanto subversiva para a época, é verdade – para as atividades consideradas aceitáveis pela igreja sem ser verdadeiramente ameaçador. Peetie Wheatstraw se esforçou para criar essa “conexão” com o diabo, e foi bem sucedido na sua intenção . Além disso, seu público parece ter entendido que tudo era uma grande brincadeira.



Uma história bem diferente é a de Tommy Johnson, também está intimamente ligada com o diabo. No seu caso, a história que ele vendeu sua alma ao diabo veio anos depois de sua morte.



Foi seu irmão Ledell, um ministro da igreja, quem espalhou a história (já clássica, agora) de Tommy indo para uma encruzilhada para fazer um trato com o demônio e voltar com a habilidade de tocar qualquer música que ele quisesse. Embora nas músicas de Tommy Johnson não apareçam referências ao diabo, essa história tornou-se uma parte importante da mitologia do blues. Importante lembrar que ela saiu da boca de um homem devotado à Igreja, e que considerava uma vida “fora da igreja” como uma “vida do diabo”. “Big Road Blues” foi uma de suas canções populares, que muitos seguidores tocaram também.



A música (letra) “Devil’s Got the Blues”, de Lonnie Johnson’, demarcou a “ligação” entre o diabo e o blues com mais precisão do que nenhuma outra.



Lonnie Johnson canta:




"o blues é como o diabo, cai sobre você como um feitiço, deixa o seu coração cheio de sofrimento e sua pobre cabeça cheia maus pensamentos"
.


O “blues” e o “diabo” representam o que há de errado no mundo. Assim, não é surpreendente que os dois se cruzem com bastante frequência, sendo o diabo mais frequentemente usado para representar um problema, e não a promessa de sacrificar a alma – como tão frequentemente é referenciado na lenda de Robert Johnson (que se aplica também a Tommy Johnson e outros).



Mas Robert Johnson era apenas um outro homem, que certamente sofreu influência desses artistas da sua época, mas ele deve ser lembrado por sua música e da tradição Bluesística de onde veio, e não como uma exceção que obteve seu talento através de meios sobrenaturais.




sobre Robert Johnson, outro dia... ele merece um só seu....

Algumas músicas sobre o tema:



Devil Got My Woman – Skip James


She Belongs to the Devil – Washboard Sam


Devil’s Son-In-Law – Peetie Wheatstraw


Peetie Wheatstraw Stomp – Peetie Wheatstraw


Big Road Blues – Tommy Johnson


Dealing with the Devil – Brownie McGhee


Devil’s Got the Blues – Lonnie Johnson




só pra Lembrar, Mr. Johnson, na próxima, quem sabe...

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