domingo, 13 de março de 2011

Eric Clapton - From the Cradle

Tamanha sua genialidade, Eric Clapton nunca pôde ser caracterizado como ícone de um único gênero. Os fãs, entre eles eu, sabem bem que em seu íntimo, "Slow hand" mantém um forte elo com o blues. Prova disso foi o lançamento do excelente From the Cradle. Trata-se de 16 faixas, incluindo-se clássicos de peso, que levam aos fãs a essência de um Clapton diferenciado, com alma de bluesman.

Abrindo o álbum, Blues Before Sunrise dá mostras do que vem pela frente. A sincronia perfeita entre os acordes da guitarra e o vocal propositadamente rouco de Eric fazem desta faixa a mais empolgante de todas.

Third Degree, Reconsider Baby, Hoochie Coochie Man e Five Long Years formam uma das melhores seqüências que já ouvi em um álbum de blues. Não apenas por se tratarem de quatro clássicos do estilo, mas principalmente porque Clapton os faz ficar ainda melhores. Em Third Degree, o bom e velho blues de fim de noite. A sonoridade imposta pelo Deus da Guitarra transporta o ouvinte ao Mississipi do início do século passado, quando os negros cantarolavam em tons melodramáticos. Reconsider Baby – de Lowell Fulson – traz incursões de um piano muito bem executado por Chris Stainton, eterno companheiro de Clapton.

Por todos os motivos pertinentes – trata-se de uma lenda do blues - Hoochie Coochie Man é a melhor faixa de From the Cradle. Na minha modesta opinião, nenhum outro blues representa tanto o gênero quanto este. Interpretado por Eric Clapton, torna-se um ícone da música mundial. Não menos clássica, Five Long Years é um show de técnica. A guitarra nas mãos de seu Deus transcende o que há conhecido no blues. 

Esse é o diferencial de Clapton.

I´m Tore Down reúne elementos do dançante rock n’ roll dos anos 50. E assim como em Five Long Years, o guitarrista justifica o apelido. A calmaria que reina em How Long Blues, por sua vez, faz com que este seja um dos blues mais prazerosos já gravados. A combinação piano-gaita-violão convida os fãs a se sentarem em um canto ensolarado e "saborearem" cada um dos acordes.

Particularmente, Goin’ Away Baby é a faixa mais modesta de From the Cradle. Traz um bom balanço, é verdade, um ótimo acompanhamento de gaita, mas não chega a contagiar. Em contrapartida, Blues Leave Me Alone e Sinner’s Prayer são ideais para serem ouvidas com um bom copo de whisky nas mãos (eu particularmente prefiro um bom Cabernet Sauvignon, mas os puristas dirão que não combina, às favas os puristas). A segunda faixa ainda ganha, mais uma vez, o vocal rouco de Clapton.

Motherless Child perde-se um pouco do estilo imposto ao álbum. Trata-se de uma faixa diferenciada, que agrupa elementos variados do blues. Vale ser ouvida com atenção.

It Hurts Me Too – clássico de Elmore James –, Someday After a While e Standin’ Round Crying são perfeitas. De todas as faixas de From the Cradle, são as únicas em que se percebe, do início ao fim, o estilo bluesman de Eric Clapton, sob todas suas influências.

E por falar em influência, Driftin’ é uma homenagem não explícita ao estilo único de John Lee Hooker. Trata-se de um autêntico boogie, com batida de pé e violão, apenas.

Groaning The Blues fecha o álbum com maestria. Clássico de Willie Dixon, o Deus da Guitarra o interpreta de forma que seu instrumento "chore" todas as notas, mesclando seu próprio virtuosismo ao estilo melodioso de BB King. From the Cradle, efetivamente, é um dos álbuns TOP da história do blues.

Temos neste disco um Clapton voltado ao Blues, mostrando toda sua essência, sua técnica e acima de tudo, sua magistral interação com o instrumento, que o levaram a ser chamado de o "Deus da Guitarra".

Em 2004, Eric grava o excepcional Session for Robert Jonhson, onde o mestre faz uma releitura dos grandes clássico da lenda do Blues.

Mas ai.. já é uma outra história para um outro dia...

I Have The Blues Every Day

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